quarta-feira, agosto 17, 2016

Estudos sobre o património

22.

Quando era viva, a minha avó passava as tardes com mais sol ali sentada. Não propriamente ali, mas na casa dela, numa espécie de escano de madeira. A olhar ou a ler (especialmente qualquer coisa religiosa).

Já eu, quando era mais novo e era por ali que dormia a família ou parte dela, descia aquelas escadas de pedra e andava por ali, apesar do cheiro mais intenso. Ninguém queira imaginar aquele espaço antes de ser mexido.

Até que foi. Até que, religiosamente (no bom sentido de "religiosamente") todos uns anos existe um jantar (que será sempre em honra dela e da família). Este ano repetiu-se.

Eramos 22 à mesa. Entre os que estavam, não estavam e, essencialmente, os que podiam estar, quase me lembrei do Jorge Palma quando versava sobre os "serões habituais e as conversas sempre iguais".

Lembrei-me agora, mas então não.

Só senti que estávamos todos mais velhos. Tenho ideia que só a minha mãe não envelhece.

Não lamento o envelhecimento. Tenho pena que o veja. Que quase o apalpe. Louvo, porém, a renovação.

Mas pena tenho. Até porque há tanto para resolver. Tanta conversa que está em falta. Tanto, tanto.